Águas mais limpas, melhora da qualidade no ar e menos poluição atmosférica mostram um cenário em que é preciso desacelerar
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 60 países ao redor do mundo adotaram a quarentena, ou seja, o isolamento social, como medida para sentir-se protegido e auxiliar na contenção do novo coronavírus.
Isto representa cerca de 2,8 bilhões de pessoas vivendo sob algum tipo de distanciamento social, restrição de serviços e de locomoção. Em termos de dimensão, esse número corresponde a um terço da humanidade.
Neste cenário, agências de acompanhamento do meio ambiente e satélites da NASA têm percebido diminuição da poluição atmosférica. Aos olhos nus, também é possível visualizar rios mais limpos, o céu mais azul e o aumento da presença de animais em espaços urbanos.
Entre as causas, estão alguns dados ilustrativos. O Relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) indica que a procura por petróleo cairá pela primeira vez desde 2009, devido à diminuição das atividades industriais e do número de viagens.
O serviço de rastreamento Flightradar24 indica outro dado interessante: o número de voos do tipo comercial reduziu-se para apenas um quarto do habitual em março, comparado aos outros anos. Abaixo, confira como cada país sentiu os efeitos da desaceleração local.
China
Imagens captadas por satélites da NASA indicam uma queda abrupta da presença de dióxido de nitrogênio (NO2) no ar. Entre janeiro e fevereiro, a presença do gás caiu 25%. Neste período, ao menos 40 milhões de pessoas já cumpriam quarentena no país.
O dióxido de nitrogênio é um gás poluente emitido pela queima de combustíveis fósseis, processo comum na produção industrial e para a locomoção de carros.
Itália
Dados de uso do aplicativo de transporte público e mapeamento Citymapper, recorrente entre os europeus, indicou que o fluxo de viagens em Madri, Paris e Londres caiu para menos de um décimo da porcentagem realizada diariamente.
Assim, um dos locais mais afetados pela pandemia viu acontecer o mesmo fenômeno que a China. De acordo com a Agência Espacial Europeia, no Norte da Itália, epicentro do patógeno, as emissões de NO2 caíram cerca de 40%.
Também chamou a atenção da população a cor das águas dos canais de Veneza no período de isolamento. Um dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade, o líquido turvo ganhou um tom mais cristalino.
Brasil
O Brasil também passou a integrar o quadro de países que adotaram o distanciamento social. Com isso, grandes metrópoles, como São Paulo e Rio de Janeiro, registraram uma melhora na qualidade do ar.
Conforme informações da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e do satélite Sentinel 5P, da Agência Espacial Europeia, as manchas que indicam a concentração de NO2 no local diminuíram.
Por aqui, os números relativos foram menores comparados à Europa, pois são referentes ao tráfego de veículos, enquanto diversos países europeus emitem o dióxido de nitrogênio por meio de usinas termelétricas que queimam óleos pesados ou carvão mineral para a produção de energia.
Índia
A Índia é o país mais populoso do mundo e, recentemente, seu 1,3 bilhão de moradores entraram em quarentena por, no mínimo, três semanas. Com isso, a poluição diminuiu.
O resultado é que a cadeia de montanhas do Himalaia agora pode ser vista pelas cidades localizadas ao Norte da Índia. Tal visão não era possível há décadas, conforme explicam os indianos.
Qual a solução para a crise ambiental?
A quarentena trouxe à tona a dimensão da influência humana no uso de recursos naturais e como a sobrecarga de consumo sobre o planeta impacta na qualidade da água e do ar que todos utilizam.
No entanto, Bernardo Baeta Strassburg, professor do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio e diretor-executivo do Instituto Internacional para Sustentabilidade, alerta que os custos econômicos, sociais e de saúde são muito altos para considerar a diminuição da poluição como um lado bom da pandemia.
O especialista explica que existem outras soluções para um ar mais limpo que não envolvam um cenário de isolamento. A questão é sustentada pelos dados da OMS, que indicam que cerca de 91% da população mundial vive em locais com qualidade do ar inadequada.
Ainda segundo o mesmo relatório de 2016, esta condição provoca cerca de 4,2 milhões de mortes prematuras por ano. Strassburg destaca, por exemplo, a adoção de energias renováveis, como a eólica e a solar, como uma das formas mais eficientes para diminuição do NO2 na atmosfera.
Além disso, ambientalistas ressaltam que a retomada da economia após a crise provocada pelo COVID-19 deve se guiar por estratégias de crescimento saudáveis e pelos compromissos assumidos de redução das emissões de gases danosos à camada de ozônio, assim como o fortalecimento de projetos sustentáveis.